Bajrangi Bhaijan tem todos os elementos de um desavergonhado melodrama. Começando pelos personagens principais, Pawan e Shahida. Pawan é um homem pouco inteligente, mas nobre e forte, e irá enfrentar uma série de problemas para alcançar seu objetivo: levar Shahida para casa. Shahida é uma menina paquistanesa surda-muda que se perdeu da mãe em uma estação de trem na Índia e agora não tem mais como voltar. Para quem não sabe, Índia e Paquistão vivem em pé-de-guerra e, cruzar a fronteira sem permissão para ir a um lugar desconhecido (já que Pawan não sabe onde a garota mora), é jogar com a própria vida. Pawan, mesmo assim, decide empreender uma viagem até o Paquistão para levar Shahida até seus pais, lugar onde será perseguido pela polícia paquistanesa, com a suspeita de que ele seja algum tipo de espião do governo indiano. Mas (isso não é nenhum spoiler) nada disso o impedirá de seguir em frente, já que ele é, claramente, um herói.
A narrativa vem embalada no estilo "Masala", gênero comercial do cinema indiano que mistura (nesse caso) ação, comédia, melodrama e números musicais. Como em alguns outros grandes filmes indianos, não há surpresas totalmente imprevisíveis na trama, mas o controle narrativo e a execução e harmonia de todos os elementos presentes no filme realmente impressionam, ainda mais considerando que o filme tem duas horas e meia. O segredo é o timing, a precisão com que tudo é executado.
O filme é uma das 5 maiores bilheterias de todos os tempos do cinema indiano, mostrando que é, sem dúvida, um filme para as massas. Em grande parte, pela eficiência na criação de um melodrama convincente, que nunca se perde em excessos que levem o filme para uma rua sem saída e lacrimejante, coisa que, considerando o material básico, poderia bem acontecer. Isso porque o filme prefere optar pela ação e pela comédia ao invés de carregar no drama, uma ótima escolha.
Mas talvez o que realmente nos toque na história de Pawan e Shahida seja algo universal: nosso desejo de ver aquele que está por baixo se elevar. O ingênuo se mostrar sábio. O fraco se tornar forte. Os inimigos se tornarem amigos. Pequenos milagres que queremos acreditar que são possíveis. Talvez por isso caracterizar Pawan como devoto do deus Hanuman soe tão natural. O filme é, no fundo, sobre a natureza da fé humana. De onde ela vem e por que existe. Seja na religião ou no ato de um homem enfrentar a polícia inteira de um país apenas para entregar uma menina indefesa para os seus pais. E mais, na crença de que, um dia, essa fé será recompensada. E de que os cidadãos da Índia e do Paquistão terão mais poder que as autoridades desses países. Ou seja, algo ideal e que, num melodrama bem feito, pode atingir emoções fortes o bastante para tornar o filme memorável.
Outra coisa que Bajrangi Bhaijaan denota é o fato de que, por mais que o cinema indiano faça filmes comerciais, nunca se torna um cinema de exportação, nunca deixa de ser indiano. Pela simples razão de que o cinema nacional domina as salas de exibição. O cinema indiano tem que atender, antes de mais nada, o seu povo, o seu mercado interno. E, daí, partir para fora. Por isso, os indianos, ao contrário dos outros países (fora os americanos) quando tentam atingir a maioria do público, não conseguem deixar de serem indianos. É uma condenação, pois o público global, tão acostumado com o cinema americano e globalizado, às vezes não consegue entender o que esse cinema tem de melhor. Mas também é uma benção ao mesmo tempo, já que, por mais que o cinema indiano às vezes se inspire em modelos comerciais americanos e europeus, é um dos que mais guardam seu gosto local intacto. É um feito, ainda mais pensando que, para o cinema indiano, em termos de bilheteria, esse filme é o "Vingadores" ou o "Star Wars: O Despertar da Força" da indústria. A arrecadação foi por volta de 150 milhões de dólares. E o custo, cerca de 13 milhões (existem filmes muito mais caros na Índia que dão um retorno muito menor).
Comentários
Postar um comentário