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Meri Aawaz Suno (1981) - É Tarantino, Dirty Harry, Charles Bronson, "Justiça para Todos" ou "Taxi Driver"?

     Meri Aawaz Suno é um marco do cinema indiano. Antes de ser lançado, esperava-se que iria causar muita polêmica. Tanto que os realizadores localizaram a trama em um "país imaginário" chamado Mindustan (ao invés de Hindustan) para tentarem não se comprometer tanto. No entanto, mesmo assim, a forte crítica feita aos agentes da lei e do judiciário no filme suscitaram inúmeras reações negativas na Índia. A reação foi menos radical que a suscitada por Antha (Fim), o filme falado em Kannada, dirigido pelo mesmo diretor, que deu origem a Meri Aawaz Suno. No caso de Antha, os jornais se encheram de cartas pedindo a retirada do filme dos cinemas e os censores se sentiram enganados, já que só foi mostrada somente a primeira metade para eles. No caso de Meri Aawaz Suno, apesar do buchicho, ou por causa dele, o filme foi um sucesso. E aí é que eu queria chegar.       Embora, para um espectador de hoje em dia e brasileiro, outras coisas possam se destacar mais, como o problema da
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Será que o Cinema Indiano está indo pelo mesmo caminho do Cinema Brasileiro? O Multiplex pode matar Bollywood?

     A história no Brasil é conhecida. No final dos anos 90 e início do século XXI, o circuito exibidor brasileiro optou por um caminho. Modernizou suas salas de cinema através do multiplex. O ponto negativo é que o circuito diminuiu de tamanho, os cinemas de rua desapareceram, os ingressos começaram a aumentar de preço e o circuito se tornou extremamente elitizado. Hoje, para ir ao cinema, pagando a inteira, você gasta trinta reais no ingresso (ou mais) e, se comer pipoca e tomar refrigerante, pode dobrar o preço. Uma família com pai, mãe e dois filhos pode gastar uma fortuna no cinema comparado com o que ocorria há trinta ou quarenta anos atrás.      Nada disso, como se sabe, é um processo natural. São escolhas. E só há duas, geralmente. Ou você abaixa o preço e populariza seu produto ou você aumenta o preço e fornece o que tem para uma elite. O Brasil optou por "elitizar" seu circuito exibidor (e olha que ele não era tão "popular" assim antes disso). A Índi

3 Idiots (2009) - Esse filme converte qualquer um

     Existem alguns filmes onde o todo é muito maior que a soma das partes. Não que as partes não sejam boas, mas é que certos filmes têm, dentro de si, algum tipo de mágica que faz com que as pessoas se apaixonem por ele. Ao analisar as partes, é possível ver alguns indícios do que há de bom ou atraente naquele filme, mas ainda assim permanece um mistério. Esse é o caso de "3 Idiots", talvez o filme com maior índice de "conversões" para o cinema indiano que já vi.      O cinema indiano, dada a falta de informações que existe no Brasil, é vítima de uma visão estereotipada. Como na Índia há quase dois mil filmes sendo feitos por ano, não existe dúvida que existe nesse país uma grande variedade de possibilidades, de gêneros e propostas, e, principalmente, de graus de qualidade acerca dos filmes feitos. No entanto, a face mais comercial é, muitas vezes, a única que aparece e nela, os filmes possuem algumas características específicas (não todos, mas uma grande pa

Qual é a reação dos artistas ao ataque terrorista de 14 de fevereiro?

Navjot Singh Sindhu, Salman Khan e Kapil Sharma      Para quem acha que as coisas estão quentes no Brasil, saibam que não é só aqui: no dia 14 de fevereiro houve um ataque terrorista na Índia, organizado pelo grupo islâmico paquistanês Jaish-e-Mohammed. Um veículo bomba se lançou contra um comboio de veículos da "Central Reserve Police Force" da Índia (que me parece ser a PF de lá), ocasionando a morte de 40 pessoas.      O membro do grupo terrorista que fez o atentado era um local do Estado de Jammu e Kashmir, único estado indiano que tem mais muçulmanos que hindus na Índia. Desde 1989 não havia um ataque tão mortal lançado contra as forças de segurança oficiais do Estado indiano. Isso ocasionou inúmeras retaliações contra nativos de Kashmir e um clima de "pé-de-guerra" na Índia.       Como meu blog não é sobre política internacional, meu foco vai para a reação no meio audiovisual indiano, já que esse tipo de situação causa efeitos em todos os setores da

O Maior Complexo de Estúdios não está nos EUA ou na China. Está na Índia e seu nome é Ramoji Film City

     Sim, a indústria do cinema indiano detém esse recorde. O Guiness certificou Ramoji Film City como o maior complexo de estúdios cinematográficos do planeta, com 47 estúdios de filmagem (sound stages). Além disso, ao contrário do ocidente, onde os "sets" geralmente não são mais permanentes nos dias de hoje, Ramoji possui uma prisão, um templo e uma vila inteira, além de outros cenários. A área tem seis quilômetros quadrados e, para que essa "cidade do cinema" virasse realidade em 1996, foi necessário o lendário produtor Ramoji Rao. No entanto, se a palavra "Bollywood" vem a sua cabeça nesse momento, espere um pouco e leia o resto do post.       Ramoji Film City se localiza nos arredores da capital de Telangana, Hyderabad, a cidade que é o coração de Tollywood, a parte da indústria cinematográfica indiana que fala Telugu. Existem vários polos cinematográficos na Índia e Bollywood é só um deles. Ainda é o polo mais lucrativo, mas Tollywood nã

STREE (2018) - ORÇAMENTO: 3 milhões de dólares RENDA BRUTA: 25 milhões de dólares

     Antes de mais nada, é bom frisar: um bom filme pode fazer sucesso, passar indiferente pelos cinemas ou simplesmente ser um fracasso. Mas para quem produz o filme, é sempre bom que ele funcione nas bilheterias, já que o fracasso inviabiliza outros filmes. E você perde dinheiro. Ou entra em falência, dependendo de quanto se investe. Embora no Brasil isso não aconteça, já que o dinheiro, em sua maioria, é estatal. Mas em países onde há investimento privado no cinema, como a Índia, esse risco existe.      Por isso, é interessante falar sobre "Stree", um filme recentíssimo, que mistura comédia e terror, algo que não é inédito no cinema indiano, mas que, dessa vez, atingiu uma fórmula bem azeitada que caiu no gosto do público (agora sim) de uma forma inédita. Afinal, como diz o título do post, o filme custou pouco mais de 3 milhões de dólares e sua renda bruta foi um pouco mais de 25 milhões de dólares. Um sucesso inusitado, já que filmes de terror não são o gênero mais a

Veerana (1988) - A Índia tem seu Zé do Caixão: são os Irmãos Ramsey!

           Alguns filmes indianos causam um efeito parecido a você ser convidado para assistir um jogo de futebol de regras muito específicas. Em linhas gerais, o jogo permanece o mesmo. Você tem a bola, o campo, dois times, 22 jogadores... mas, continuamente, alguma coisa parece estranha e diferente, a ponto de fazer você acreditar que não é o mesmo jogo. Ao analisar melhor aquilo tudo, no decorrer do tempo, você descobre que, do mesmo jeito que o "seu" jogo de futebol, esse aqui também tem regras muito claras e diretas, apenas elas não lhe foram comunicadas de antemão. Resta-lhe, por fim, saber se, com o tempo, em sua mente, aquilo tomará a forma de algo claro e sólido. Se tomar, você foi fisgado, se não, o filme não é para você. Ou... você apenas precisa de mais tempo.      Os Irmãos Ramsey começaram a fazer filmes em 1972 com "Do Gaz Zameen Ke Neeche", embora no IMDB esteja escrito que há um filme anterior chamado "Nakuli Shaan" (do qual não tenh