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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

3 Idiots (2009) - Esse filme converte qualquer um

     Existem alguns filmes onde o todo é muito maior que a soma das partes. Não que as partes não sejam boas, mas é que certos filmes têm, dentro de si, algum tipo de mágica que faz com que as pessoas se apaixonem por ele. Ao analisar as partes, é possível ver alguns indícios do que há de bom ou atraente naquele filme, mas ainda assim permanece um mistério. Esse é o caso de "3 Idiots", talvez o filme com maior índice de "conversões" para o cinema indiano que já vi.      O cinema indiano, dada a falta de informações que existe no Brasil, é vítima de uma visão estereotipada. Como na Índia há quase dois mil filmes sendo feitos por ano, não existe dúvida que existe nesse país uma grande variedade de possibilidades, de gêneros e propostas, e, principalmente, de graus de qualidade acerca dos filmes feitos. No entanto, a face mais comercial é, muitas vezes, a única que aparece e nela, os filmes possuem algumas características específicas (não todos, mas uma grande pa

Qual é a reação dos artistas ao ataque terrorista de 14 de fevereiro?

Navjot Singh Sindhu, Salman Khan e Kapil Sharma      Para quem acha que as coisas estão quentes no Brasil, saibam que não é só aqui: no dia 14 de fevereiro houve um ataque terrorista na Índia, organizado pelo grupo islâmico paquistanês Jaish-e-Mohammed. Um veículo bomba se lançou contra um comboio de veículos da "Central Reserve Police Force" da Índia (que me parece ser a PF de lá), ocasionando a morte de 40 pessoas.      O membro do grupo terrorista que fez o atentado era um local do Estado de Jammu e Kashmir, único estado indiano que tem mais muçulmanos que hindus na Índia. Desde 1989 não havia um ataque tão mortal lançado contra as forças de segurança oficiais do Estado indiano. Isso ocasionou inúmeras retaliações contra nativos de Kashmir e um clima de "pé-de-guerra" na Índia.       Como meu blog não é sobre política internacional, meu foco vai para a reação no meio audiovisual indiano, já que esse tipo de situação causa efeitos em todos os setores da

O Maior Complexo de Estúdios não está nos EUA ou na China. Está na Índia e seu nome é Ramoji Film City

     Sim, a indústria do cinema indiano detém esse recorde. O Guiness certificou Ramoji Film City como o maior complexo de estúdios cinematográficos do planeta, com 47 estúdios de filmagem (sound stages). Além disso, ao contrário do ocidente, onde os "sets" geralmente não são mais permanentes nos dias de hoje, Ramoji possui uma prisão, um templo e uma vila inteira, além de outros cenários. A área tem seis quilômetros quadrados e, para que essa "cidade do cinema" virasse realidade em 1996, foi necessário o lendário produtor Ramoji Rao. No entanto, se a palavra "Bollywood" vem a sua cabeça nesse momento, espere um pouco e leia o resto do post.       Ramoji Film City se localiza nos arredores da capital de Telangana, Hyderabad, a cidade que é o coração de Tollywood, a parte da indústria cinematográfica indiana que fala Telugu. Existem vários polos cinematográficos na Índia e Bollywood é só um deles. Ainda é o polo mais lucrativo, mas Tollywood nã

STREE (2018) - ORÇAMENTO: 3 milhões de dólares RENDA BRUTA: 25 milhões de dólares

     Antes de mais nada, é bom frisar: um bom filme pode fazer sucesso, passar indiferente pelos cinemas ou simplesmente ser um fracasso. Mas para quem produz o filme, é sempre bom que ele funcione nas bilheterias, já que o fracasso inviabiliza outros filmes. E você perde dinheiro. Ou entra em falência, dependendo de quanto se investe. Embora no Brasil isso não aconteça, já que o dinheiro, em sua maioria, é estatal. Mas em países onde há investimento privado no cinema, como a Índia, esse risco existe.      Por isso, é interessante falar sobre "Stree", um filme recentíssimo, que mistura comédia e terror, algo que não é inédito no cinema indiano, mas que, dessa vez, atingiu uma fórmula bem azeitada que caiu no gosto do público (agora sim) de uma forma inédita. Afinal, como diz o título do post, o filme custou pouco mais de 3 milhões de dólares e sua renda bruta foi um pouco mais de 25 milhões de dólares. Um sucesso inusitado, já que filmes de terror não são o gênero mais a

Veerana (1988) - A Índia tem seu Zé do Caixão: são os Irmãos Ramsey!

           Alguns filmes indianos causam um efeito parecido a você ser convidado para assistir um jogo de futebol de regras muito específicas. Em linhas gerais, o jogo permanece o mesmo. Você tem a bola, o campo, dois times, 22 jogadores... mas, continuamente, alguma coisa parece estranha e diferente, a ponto de fazer você acreditar que não é o mesmo jogo. Ao analisar melhor aquilo tudo, no decorrer do tempo, você descobre que, do mesmo jeito que o "seu" jogo de futebol, esse aqui também tem regras muito claras e diretas, apenas elas não lhe foram comunicadas de antemão. Resta-lhe, por fim, saber se, com o tempo, em sua mente, aquilo tomará a forma de algo claro e sólido. Se tomar, você foi fisgado, se não, o filme não é para você. Ou... você apenas precisa de mais tempo.      Os Irmãos Ramsey começaram a fazer filmes em 1972 com "Do Gaz Zameen Ke Neeche", embora no IMDB esteja escrito que há um filme anterior chamado "Nakuli Shaan" (do qual não tenh

Bajrangi Bhaijaan (2015)

     Bajrangi Bhaijan tem todos os elementos de um desavergonhado melodrama. Começando pelos personagens principais, Pawan e Shahida. Pawan é um homem pouco inteligente, mas nobre e forte, e irá enfrentar uma série de problemas para alcançar seu objetivo: levar Shahida para casa. Shahida é uma menina paquistanesa surda-muda que se perdeu da mãe em uma estação de trem na Índia e agora não tem mais como voltar. Para quem não sabe, Índia e Paquistão vivem em pé-de-guerra e, cruzar a fronteira sem permissão para ir a um lugar desconhecido (já que Pawan não sabe onde a garota mora), é jogar com a própria vida. Pawan, mesmo assim, decide empreender uma viagem até o Paquistão para levar Shahida até seus pais, lugar onde será perseguido pela polícia paquistanesa, com a suspeita de que ele seja algum tipo de espião do governo indiano. Mas (isso não é nenhum spoiler) nada disso o impedirá de seguir em frente, já que ele é, claramente, um herói.       A narrativa vem embalada no estilo &q

Talvar (2015)

      "Talvar" tem um nome em português. É "Culpa Declarada", o que dá uma impressão de certeza que está muito longe do clima de incerteza que o filme cria e que não termina nem quando ele acaba. Interessante notar que é um filme de 2015 e representa algo que não existe no Brasil. O filme de baixo para médio orçamento que faz sucesso. Custou cerca de dois milhões de dólares e só nas bilheterias conseguiu quatro. Considerando as vendas para TV, cabo e outras "janelas" de exibição, provavelmente foi um sucesso. E é um filme comercial no gênero policial.       Mas, afinal de contas, por que falo sobre ele? Primeiro, seu foco é claro e é a fonte de sua qualidade. O filme todo se baseia no modo eficiente com que cria um clima de ambiguidade. O seu ponto forte é, basicamente, aceitar a imprecisão contida na narrativa original da história. Pois a história ficcional é baseada em um caso verídico de duplo assassinato que aconteceu na Índia em 2008 e que se to

Baahubali 2 faturou 1 bilhão de reais. O cinema brasileiro não tem "Nada a Perder" se olhar com mais atenção para o cinema indiano.

     Nesse texto não vou falar sobre o filme "Baahubali", mas sobre sua bilheteria. É mais um artigo opinativo que uma análise de filme. Posso dedicar um post para "Baahubali 1&2", mas será mais para a frente. O que quero falar agora é outra coisa: "Baahubali 2" não faturou 1 bilhão de reais. Faturou 278 milhões de dólares. Ou 1,810 crore. O que dá um pouco MAIS que 1 bilhão de reais, no câmbio do dia 08/02/2019. E essa notícia não é nova, é de 2017, mas aposto que você não sabia disso, então é por isso que escrevi esse post. Aí você me pergunta: então esse filme deve ser a maior bilheteria do cinema indiano, não? Para falar a verdade, não. A maior bilheteria é um filme chamado "Dangal", que arrecadou algo entre 311 e 340 milhões de dólares, algo próximo de 1 bilhão e duzentos e cinquenta milhões de reais. Se juntarmos os dois filmes da franquia "Baahubali", aí sim chegaremos em 1 bilhão e meio de reais.       Você pode me diz

Guide (1965)

           Apesar desse filme ser muito estimado, me suscitou dúvidas, principalmente com a segunda metade. Ao contrário da reação que tive ao ver "Mughal-E-Azam" e "Sholay". Mas primeiro deixa eu lhes dar um resumo da história. Raju é um guia turístico que encontra um casal peculiar: Marco e Rosie. Ele é arqueólogo e quer ser levado para uma caverna onde fará suas pesquisas. E Rosie é sua mulher, alguém que está extremamente insatisfeita com o casamento, pois foi um casamento de conveniência e seu marido não deixa ela perseguir seu sonho: tornar-se uma dançarina profissional.      Durante a estada do casal na cidade de Raju, o relacionamento dos dois se deteriora a tal ponto que Rosie sai de casa e pede abrigo para Raju. Raju acolhe Rosie, sofrendo retaliações da população local, seus amigos e até de sua mãe e de seu tio, que não gostam de Rosie, pois ela é filha de uma prostituta e foi vendida para Marco. Enfrentando as adversidades, Raju ajuda Rosie a se

Sholay (1975)

O vilão Gabbar Singh e o policial Thakur      Sholay é considerado um clássico do cinema indiano e é um dos expoentes mais exemplares do gênero conhecido como "Masala". Um filme "Masala" geralmente apresenta uma mistura variada de gêneros, como ação, comédia, romance, musical e melodrama.      Sholay também é considerado por alguns um "curry western", em comparação aos "spaghetti western". Realmente, minha primeira impressão do filme foi o de que era, basicamente, um faroeste indiano. Ainda mais por que há sim uma influência clara do western americano e de Sergio Leone no filme.       Mas o filme é muito mais. É um exemplo claro de como o cinema indiano consegue sugar referências do cinema de gênero de outros países, assimilando e transformando em algo genuinamente indiano. A história, cheia de pequenos episódios (já que tem 3 horas de duração) é basicamente a seguinte: uma dupla de criminosos é contratada por um ex-chefe de polícia p

Mughal-E-Azam (1960)

   Akbar, imperador da Índia, tem um filho insolente e rebelde, chamado Salim. Para disciplina-lo, seu pai manda-o para a linha de batalha e lá ele fica por muitos anos, até atingir a idade adulta. Quando volta, está transformado. Parece que se tornou um verdadeiro príncipe, nos modos e na aparência. Mas quando ele se apaixona por uma cortesã do palácio, de nome Anarkali, uma outra questão, ainda mais grave que aquela que o fez se afastar primeiramente, irrompe. O amor deles é impossível, devido às diferenças de posição social. E Akbar não aceita a união dos dois.      Essa disputa entre o amor (representado por Salim) e o dever (representado por Akbar) é levado a limites impensáveis, colocando pai contra filho e levando o reino inteiro a um estado de guerra e confusão. Talvez esse conflito já tenha aparecido em outros filmes, mas duvido que da maneira que é colocado nesse filme, onde a narrativa, momentos poéticos ou musicais e batalhas épicas se misturam de maneira perfeita