Akbar, imperador da Índia, tem um filho insolente e rebelde, chamado Salim. Para disciplina-lo, seu pai manda-o para a linha de batalha e lá ele fica por muitos anos, até atingir a idade adulta. Quando volta, está transformado. Parece que se tornou um verdadeiro príncipe, nos modos e na aparência. Mas quando ele se apaixona por uma cortesã do palácio, de nome Anarkali, uma outra questão, ainda mais grave que aquela que o fez se afastar primeiramente, irrompe. O amor deles é impossível, devido às diferenças de posição social. E Akbar não aceita a união dos dois.
Essa disputa entre o amor (representado por Salim) e o dever (representado por Akbar) é levado a limites impensáveis, colocando pai contra filho e levando o reino inteiro a um estado de guerra e confusão. Talvez esse conflito já tenha aparecido em outros filmes, mas duvido que da maneira que é colocado nesse filme, onde a narrativa, momentos poéticos ou musicais e batalhas épicas se misturam de maneira perfeita e harmônica. Começarei o blog com um filme que define muito bem o cinema épico indiano: Mughal-E-Azam. Lançado em 1960, é uma obra-prima. Seu ritmo ritualístico e hipnótico parecerá lento para alguns e irresistível para outros. A narrativa não se precipita em nenhum momento e algumas pequenas surpresas servem para pontuar muito bem o andamento da história, que, a princípio, não possui nada de tão diferente. Agora, a execução dessa história é impecável. Há muitas coisas para se olhar em Mughal-E-Azam, começando pelas atuações de Dilip Kumar, Madhubala e Prithviraj Kapoor. Os diálogos poéticos trocados entre os personagens só serão entendidos através de legendas por quem não fala o Urdu, mas a sua musicalidade pode ser entendida por qualquer um. A reconstrução de época é um caso a parte, que surpreende tanto nas cenas no Palácio quanto nas batalhas onde até os animais se contam aos milhares. E, em relação à direção, os planos sugestivos atingem um ritmo que, ao meu ver, não se tornam rápidos nem lentos demais, como se decupar um filme de 3 horas de duração fosse algo fácil. Ao ser lançado, Mughal-E-Azam se tornou o filme de maior bilheteria daquele ano. E dos 15 anos seguintes também, já que só depois de uma década e meia que ele perdeu seu posto de maior bilheteria do cinema indiano. Um feito para um filme cuja maior conquista foi a capacidade de usar as regras do cinema narrativo para mergulhar o espectador em um período temporal inalcançável e emoções que, de tão fortes, beiram o transcendental.
Comentários
Postar um comentário